domingo, 18 de novembro de 2007

O SUCESSO ESCOLAR ATRAVÉS DA AVALIAÇÃO E DA RECUPERAÇÃO

Esta resenha é fruto de um exercício da cadeira de Didática, do curso de Geografia. Vale a pena ler!


O SUCESSO ESCOLAR ATRAVÉS DA AVALIAÇÃO E DA RECUPERAÇÃO

Em análise à obraO sucesso escolar através da avaliação e da recuperação” a mim pareceu que Maria C. Melchior ao redigi-la se voltou para um público muito distinto, os educadores (em atividade e, em formação). Nesse livro, de fácil e gostosa leitura, são abordados alguns estigmas da educação, contudo e sobretudo, a autora defende vorazmente a possibilidade de sucesso escolar através de uma práxis docente executada com responsabilidade.

O livro é dividido em três capítulos (Fracasso Escolar, Avaliação Escolar e Recuperação da Aprendizagem), os quais se apresentam, por sua vez, em diversos fragmentos, dando vazão aos assuntos atrelados. Assim sendo, verifiquemos:

Sobre o fracasso escolar

A autora faz uso de dados numéricos ao analisar as razões do fracasso escolar no ensino fundamental. E à luz deste enfoque, verifica que ao contrário do que muitos pensavam, os protagonistas da situação não são a reprovação e a evasão concomitantemente. Mas sim, que a repetência é a grande vilã levando a uma média nacional de 11,4 anos para a conclusão do ensino fundamental. Alunos evadidos permanecem em média 6,4 anos no colégio.

Como prováveis causas da evasão, Maria C. Melchior cita: a falta de pré-requisito dos alunos, implicando em desistência por não conseguir acompanhar os demais colegas; os rótulos que se tornaram inerentes ao aluno, como “fraco”, por exemplo; a distância entre o que enfrentam na sociedade e o que a escola propõe e os problemas sociais.

Acerca da reprovação Melchior diz que, há alguns anos, até por volta de 1960, a culpa pelo fracasso escolar do aluno era tão somente dele, mas que com o passar dos anos este painel se modificou e a partir de então, professor e escola passaram a ser questionados e levados em consideração no que diz respeito ao insucesso escolar, juntamente com o perfil sócio-econômico dos educandos.

Ou seja, outrora o poder de julgamento e condenação do professor era inquestionável. Este condenava o aluno ao insucesso e ainda recebia o apoio dos pais, que corroboravam a incapacidade de seus filhos em aprender e progredir, acentuando a culpabilidade nos estudantes.

Melchior é enfática ao dizer que: “ao invés de procurar culpados pelo insucesso escolar é necessário encontrar alternativas que possibilitem a todos os alunos a aquisição de conhecimento e desenvolvimento das habilidades e atitudes desejadas.” E, ainda reforça: “a reprovação na escola deve ser entendida e assumida como exceção e não como regra. A regra é aprender, progredir. A escola existe para que o aluno aprenda e nunca para o fracasso.”

Conforme Melchior, já existem inúmeros estudos que buscam investigar os reais motivos do fracasso escolar, todavia com um outro foco de estudo que não o estudante diretamente, mas sim, enfocando as questões: a escola faz diferença? Que escola está fazendo a diferença?

Com base nesses estudos foram elencados alguns fatores que favorecem o sucesso escolar:

  • Presença de liderança – o líder não deve ser autoritário e dominador, mas “um líder que adeqüe seu estilo de liderança ao grupo, às necessidades do momento e aos objetivos que se propõem, sem deixar de ser carismático, para que a educação aconteça num clima propício ao desenvolvimento de todos os participantes do processo”;
  • Expectativas positivas em relação ao rendimento do aluno – faz-se necessário que o professor demonstre ao estudante que acredita e confia no potencial do mesmo, estimulando-o assim ao progresso;
  • Tipo de organização, clima da escola – o ambiente escolar deve ser estimulante para o educando;
  • Existência ou natureza dos objetivos de aprendizagem – é importante que os estudantes saibam previamente, e com clareza, o que é esperado deles, ou seja, quais são os objetivos que devem alcançar ao longo do período de formação e para quê.
  • Distribuição do tempo – é fundamental uma distribuição coerente do tempo, bem como a diversificação de atividades, para que os educandos mantenham-se motivados em aprender;
  • Estratégias de capacitação de professores – é necessário que o educador busque o aperfeiçoamento constante para que se torne capaz de acompanhar o ritmo evolutivo do ensino e da sociedade em geral;
  • Relacionamento e suporte técnico de instâncias da administração do ensino – apesar de toda a dificuldade imposta pelas condições de trabalho ofertadas pelo governo para a sala de aula, é imprescindível que o professor se esforce ao máximo para dar condições a um bom desenvolvimento de todos os componentes do grupo;
  • Apoio e participação dos pais – é de suma importância a participação dos pais na vida escolar de seus filhos, uma vez que existem vários problemas oriundos da família e que acabam refletindo na aprendizagem dos estudantes. A autora sugere a união do governo, da escola e da família na busca de alternativas para a minimização dos fatores que afetam a aprendizagem;
  • Tipo de acompanhamento e avaliação do aluno – o acompanhamento e a avaliação são fatores decisivos no sucesso escolar dos aprendizes;
  • O papel do profissional da educação – o professor deve se questionar sobre qual o seu verdadeiro papel no processo educativo e assim, buscar o aperfeiçoamento adequado.

Sobre a avaliação escolar

Maria C. Melchior reserva um espaço de destaque em sua obra para a discussão acerca da avaliação escolar, tornando este assunto um aspecto-chave merecedor de um olhar mais atento e crítico.

A autora sugere que a avaliação seja utilizada como um instrumento auxiliar na tomada de decisões dentro do processo de ensino-aprendizagem, contrabalançando os resultados obtidos com aqueles que se quer obter. Dentro desse contexto, Melchior diz que:

“A avaliação deve ser um processo holístico, não fragmentado, contextualizado no processo de ensino e de aprendizagem, de forma democrática, onde todos os elementos envolvidos avaliam e são avaliados, conforme os valores e os pressupostos do projeto pedagógico. (...) O grupo de educadores da instituição deve estabelecer, em conjunto, os critérios básicos da qualidade almejada, partindo da análise da realidade existente, propor os pontos de chegada. São os propósitos que vão orientar as estratégias de ação e a própria avaliação.”

Ao longo do segundo capítulo, a autora toma o cuidado de enfatizar o papel da avaliação no fazer docente, apontando as finalidades da avaliação, sugerindo a aplicação de momentos avaliativos, citando as avaliações participativa e através do diálogo, apresentando algumas técnicas de avaliação e, por fim, divagando sobre o papel do professor no processo avaliativo.

Se nos perguntamos: por que avaliar?

O livro nos diz: para melhorar o processo e o resultado, para auxiliar o aluno a motivar-se para novas aprendizagens, para auxiliar o professor (na compreensão do processo de aprendizagem e na sua auto-avaliação) e para orientar os líderes educacionais.

Sobre os momentos avaliativos, a autora diagnosticou que quando o educador é questionado acerca de quando avaliar, geralmente a resposta é unânime: sempre, constantemente. De posse desta informação, Melchior considera: “Na realidade, o que deve ser feito durante todo o processo, é colher informações sobre os desempenhos, atitudes, habilidades, dificuldades, tentativas de acerto, etc. do aluno, pois, não é possível avaliar em todos os momentos do processo. O acompanhamento deve ser feito durante toda a ação pedagógica com registros das informações obtidas, para num determinado momento analisar e avaliar estes dados”.

Melchior salienta que a avaliação, propriamente dita, não deveria ser produto de um momento (como é considerada por muitos professores), mas sim de um processo onde são levadas em consideração: a avaliação inicial com função de diagnóstico, a avaliação durante o processo ou com função pedagógico-didática e a avaliação final ou com função de controle.

Para concluir a apreciação do capítulo II, destaco aqui uma fala da autora: “a avaliação só tem sentido com a finalidade de diagnosticar o nível de desenvolvimento e os fatores que estão impossibilitando o sucesso para agir sobre eles nas etapas seguintes do processo. A nota é uma conseqüência da avaliação, não a razão de sua existência”.

Sobre a recuperação da aprendizagem

Antes da atual LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96, a recuperação de aprendizagem já estava prevista na Lei 5692/71, podendo ser aplicada de forma preventiva ou terapêutica. Apesar de haver a possibilidade de opção entre as formas de recuperação, foi dada ênfase à recuperação terapêutica por esta ser menos “trabalhosa” para o professor e também por estar prevista no calendário escolar.

Com a implantação da Lei 9394/96 visou-se a redução dos problemas de repetência e evasão escolar. Contudo, junto à nova lei surgiram novos problemas, sobretudo de ordem administrativo-educacional.

Na prática, o professor vinha usando a recuperação como uma arma, um instrumento de coação e punição. Com a atual LDB espera-se do professor a viabilização de uma recuperação onde “o aluno deve sentir-se valorizado, com a auto-estima alta e com muita confiança no sucesso, a partir das novas oportunidades que vai ter para aprender”.

Porém, a falta de preparo dos professores (práticas deficientes de avaliação adotadas pelas escolas; grande variabilidade ou inexistência de objetivos propostos; baixa eficiência da gestão pedagógica; formalismo do ensino de Português, dificultando a competência comunicativa; o insuficiente desenvolvimento de competências intelectivas; precários métodos de construção curricular; a falta de apoio pedagógico e rumos didáticos; o ensino desvinculado da realidade; a incongruência entre o que se ensina e as efetivas necessidades educativas e, a falta de domínio de partes importantes do conteúdo), juntamente com a insegurança dos administradores e os problemas do processo avaliativo resultam em dificuldades na implantação da recuperação preventiva (ou paralela).

Conforme Melchior, a recuperação pode se dar em três níveis: em nível de sala de aula, em nível de escola e em nível de Secretaria de Educação.

Em sala de aula, a recuperação se daria tão logo fosse constatada a dificuldade do educando, através: do atendimento individual do aluno, do trabalho em duplas, da utilização de monitores, da solicitação de tarefas extras e da solicitação do auxílio da família.

Na escola, de maneira extra-classe, com o auxílio de uma estrutura adequada, a recuperação poderia ser realizada: pelo próprio professor ou por outro professor encarregado da recuperação.

Em nível de Secretaria de Educação, Maria C. Melchior propõe o estruturamento de uma sala de estudos capaz de absorver e auxiliar os casos mais difíceis. E ressalta a autora que apenas os casos cuja resolução tornou-se impossível no ambiente escolar serão encaminhados à Secretaria.

Por fim, Melchior chama à atenção ao aspecto afetivo na escola, fechando assim, o último capítulo de sua obra.